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Partindo da questão da pluralidade de discursos na contemporaneidade, a proposta dessa pesquisa é observar o “jogo” que estes participam para desenvolver práticas na sociedade. A linguagem ocupa papel central, em não apenas mediar nossas interações como também (re)construir nosso sistema social, histórico e cultural; é por meio da linguagem que nossas práticas sociais são regularizadas, reproduzidas e legitimadas. Elegemos como objeto de pesquisa o discurso do Programa Bolsa Família materializado em distintos gêneros, os quais denominaremos de gêneros discursivos. A relevância em se estudar a recontextualização do discurso oficial do programa está na observação de como as escolhas lexicais, a seleção de argumentos e do próprio gênero modificam as práticas discursivas e automaticamente as práticas sociais num processo de reconstrução discursiva do próprio programa com nuances/direcionamentos diferenciados nos diferentes gêneros em que é (re)apresentado. Partimos também do pressuposto de que o programa hoje se faz um objeto cultural, uma vez que constitui e é constituído pelas relações sócio-históricas da pós-modernidade brasileira. Dessa forma, através da análise dessas práticas, poderemos pensar nas possíveis representações que são trazidas pela utilização de alguns gêneros pelo programa Bolsa Família, verificando, assim, como este objeto cultural é articulado discursivamente. Nosso objetivo geral é verificar como se configura a recontextualização do discurso oficial do Programa Bolsa Família em distintos gêneros discursivos observando a construção particular do(s) objeto(s) de discurso. Como objetivos específicos propomos descrever os gêneros selecionados, a fim de verificar as questões recorrentes, como também os pontos de instabilidade; verificar na materialidade lingüística marcas que geram propósitos comunicativos que se articulam às práticas discursivas e sociais; analisar, partindo da perspectiva de gêneros, como estes se configuram discursivamente e trazem representações. Como metodologia para pesquisa, primeiramente faremos uma contextualização do programa Bolsa Família a fim de tentar verificar as condições sócio-históricas que viabilizaram o programa/sua idealização para embasar a análise. Posteriormente apresentaremos o quadro teórico para análise discutindo as questões de retextualização/recontextualização (Marcushi, 2001) do discurso e de gêneros discursivos; para finalizar apresentaremos as observações feitas sob o corpus selecionado para análise. Para tratarmos da análise da prática textual associada à prática discursiva e à prática social do PBF, tomamos o projeto teórico-metodológico da Análise Crítica do discurso (ACD) no que concerne aos estudos sobre gênero - visto como construto textual e como mecanismo de ação social - nas propostas de Charles Bazerman (2005, 2006), Gunther Kress(1989, 1997) e Norman Fairclough(2001, 2003). Levantaremos, assim, os elementos para discussão da teoria e questões para pensar na recontextualização do discurso do programa, e, por conseguinte, quais representações de sentido são geradas no discurso do PBF. Com intuito de tentar cumprir o objetivo proposto, fizemos um levantamento das questões teóricas propostas, para discutir a teoria escolhida (ACD) com os pressupostos de gênero discursivo e crítica da cultura na análise do corpus. O que pudemos perceber é que o gênero e os processos de recontextualização dos discursos são também produtos culturais moldados de acordo com as condições sócio-históricas existentes, assim estão constantemente em movimento. Como bem já tinha observado Bakhtin (2000) “o Gênero sempre é e não é ao mesmo tempo, sempre é o novo e o velho ao mesmo tempo”. O gênero Guia do Gestor e Agenda de Compromissos da Família observados aqui nessa análise podem comprovar essa afirmação. Em função de propósitos definidos se tornam gêneros em transformações adaptando-se sempre aos contextos em que necessitam alcançar. |
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