Abstract:
Este trabalho busca compreender como homens pobres, em situação de desemprego, vivenciam a relação com a casa. O tripé de análise - rua, homens pobres e casa — é norteado pelos pressupostos da Antropologia Feminista (Henrrieta Moore, 2004) e pela perspectiva das relações de gênero (Joan Scott, 1995). Sob o referencial da Antropologia Interpretativa, foi elaborada uma etnografia na comunidade Parque Residencial Bola na Rede, a qual está situada em região de periferia da Cidade do Recife (PE), na qual realizou-se observação participante entre os meses de janeiro e junho de 2009. Foram feitas entrevistas individuais com seis homens da comunidade, três deles na faixa etária dos 26 a 27 anos e três na faixa etária dos 40 aos 48 anos. Os resultados indicam que homens em situação de desemprego procuram reinventar o espaço da casa, como um dos principais mecanismos de manutenção de poder e status masculino. Dessa forma, o argumento central defendido nesta dissertação é de que: ao não se configurarem como os principais (ou únicos) provedores, os homens em situação de desemprego buscam outros mecanismos que os possibilitam está no domínio da casa. Esse argumento está sustentado na análise dos discursos dos homens sobre: (1) suas trajetórias de trabalho; (2) a organização domiciliar, com ênfase sobre a realização de tarefas domésticas e (3) as fontes de renda para o provimento familiar que não advém do trabalho masculino, sobretudo trabalho feminino c participação no programa de transferência de renda — Programa Bolsa Família. No grupo estudado, a impossibilidade de provimento necessariamente não se reverte em marginalidade doméstica ou poderr masculino. Em face das trajetórias no mercado formal e informal, a possibilidade de sustento econômico da família torna-se pouco viável. No entanto, os relatos buscam minimizar a situação de desemprego. Eles se apresentam como homens ativos, que contam sempre em probabilidade de conseguir rendimentos financeiros, O processo de valorização é corroborado pela apresentação da construção/compra da casa, que abriga a família, como um símbolo do provimento; pelos relatos da esperteza masculina e pela proclamação da virilidade. No reforço do tal valorização, a realização de tarefas domésticas é essencial, principalmente porque vem acompanhado de falas que exaltam o poder na distribuição dessas tarefas: que atividades fazer, como e quando. Nesse contexto, a relação do homem com o espaço doméstico continua predominantemente a se estabelecer no campo do “sob controle” em oposição a “no controle” (Parry Scott, 1990). Os homens discursam sobre a realização de tarefas relativas à arrumação da casa, cuidado com as crianças, preparação de alguns alimentos, entretanto o trabalho requerido pela organização doméstica continua sob responsabilidade feminina. O trabalho feminino e os rendimentos advindos de programas governamentais (PBF) não se configuram como uma desonra. Afinal, eles só são uma ajuda! A escolha seletiva que privilegiou as falas dos homens como principal material de análise certamente nos mostra ângulos fundamentais, mas não esgota a problemática. No entanto, ao privilegiar as vozes masculinas no estudo das relações de gênero foi possível aprofundar a compressão dos mecanismos de poder que possibilitam a manutenção e o status masculino de homens que não estão em condições de prover a família. Acredita-se que essas escolhas trouxeram importantes elementos interpretativos para se compreender como homens pobres, em situação de desemprego, vivenciam a relação com a casa.