Abstract:
A produção, o tráfico e o uso das drogas são uma ameaça à segurança e à saúde dos indivíduos, das famílias e das comunidades. Verifica-se nos últimos anos o crescimento do uso de drogas entre mulheres em idade fértil, ocasionando desafios para a intervenção nos agravos decorrentes da relação droga de abuso e saúde materno-infantil. A urgência pela droga e a falta de condições financeiras levam-nas a participarem de atividades ilícitas, como tráfico de drogas, roubo e prostituição, em troca de drogas ou de dinheiro para comprá-las e sob efeito das drogas têm dificuldades em negociar a prática de sexo seguro, submetendo-se ao risco de gravidez indesejada ou não-planejada. O presente estudo tem por objetivo avaliar contextos de vulnerabilidade de mulheres usuárias de drogas de abuso no ciclo gravídico puerperal. Utilizando-se o referencial analítico da vulnerabilidade foi realizado estudo de caráter descritivo e retrospectivo de uma série de casos de 12 mulheres usuárias de drogas de abuso no ciclo gravídico puerperal, provenientes de três municípios da região Noroeste do Paraná, cujos casos foram notificados ao Centro de Controle de Intoxicações do Hospital Universitário Regional de Maringá, nos anos de 2008 a 2010. Como fonte de dados, foram utilizadas as fichas epidemiológicas de Ocorrência Toxicológica, e os prontuários hospitalares das mulheres. Os instrumentos para coleta de dados foram um roteiro para entrevista semiestruturada, aplicado durante visita domiciliar, e um diário de campo. Os dados foram categorizados de acordo com os três planos analíticos de vulnerabilidade - Individual, Social e Programático e analisados por conteúdo temático. A maioria das mulheres se declarou da raça/cor parda (58,3%); estava em período reprodutivo - faixa etária entre 17 e 33 anos; convivia em regime de união estável (58,3%); não tinha o nível de escolaridade compatível com a idade e nem tinha renda fixa (75%); sobrevivia com a pensão alimentícia dos filhos ou auxílio governamental do Programa Bolsa Família. O número de gestação/mulher variou entre duas e 11 gestações, mas 66,7% das mulheres relataram mais de três gestações. Todas iniciaram o uso de drogas na adolescência e apresentavam comportamento aditivo. Utilizaram múltiplas drogas de abuso durante a gestação, sendo o crack a mais frequente (10 – 83,3%), seguida do álcool (5 - 41,7%), e da maconha (3 -25%). Ao longo da vida, tabaco e álcool foram as drogas de iniciação, seguidas da maconha, primeira droga ilícita utilizada por dez mulheres (83,3%). Como fatores desencadeantes para o uso de drogas, destacaram-se a influência dos amigos (10), dos familiares (9), dos companheiros (8), e a presença das drogas na comunidade de convivência. No plano individual, os elementos de vulnerabilidade encontrados referem-se ao gênero, idade, situação conjugal, escolaridade, situação ocupacional, renda e raça/cor da mulher. No plano social, referem-se às situações vivenciadas pelas mulheres na família - o comportamento aditivo, distúrbios psiquiátricos, conflitos, violência física, psicológica e sexual; e conflitos com a Justiça – tráfico de drogas, outros delitos, prisão, prostituição e homicídio. No plano programático, encontrou-se a baixa acessibilidade a serviços de saúde, para realização de pré-natal e tratamento para dependência química; a inexistência de vínculo com profissionais; e baixa resolutividade e autonomia nas questões de planejamento reprodutivo e redução de danos no uso de drogas.