Abstract:
Esta tese apresenta a pobreza como múltipla e complexa, performada por uma rede de materiais heterogêneos nas políticas públicas contemporâneas. Para chegarmos a esses pressupostos construímos diálogos teóricos e epistemológicos com a abordagem da Psicologia Social Discursiva, tais como a construção histórica da pobreza, a importância da linguagem nessa construção, a polissemia de sentidos e seus repertórios linguísticos. Procurou-se entendê-la como manifestação de governamentalização do Estado Moderno, que permitiram o exercício de uma de forma específica e complexa de governo, que tem por alvo a população pobre. O enfrentamento à pobreza também passou por ressignificações trazidas pelos processos de metamorfose e reconversão da questão social, produzindo mudanças no marco das políticas sociais contemporâneas, assumindo o formato da transferência de renda. Para compreender como a Política Pública de Enfrentamento à Pobreza é performada por uma rede heterogênea de atores humanos e não humanos via o Programa Bolsa Família, articulou-se ainda um diálogo com algumas pontuações da Teoria Ator-rede e referenciais epistemológicos que questionam os fundamentos ontológicos de verdade e realidade por meio das noções de multiplicidade e performatividade. A partir das observações, entrevistas, conversas e leitura de documentos públicos das ações do Programa Bolsa Família, descrevemos três versões de pobrezas: a pobreza calculada, a cadastrada e a controlada. Essas versões coexistem entre si, e não devem ser entendidas de forma isoladas de tal modo que somadas produziriam um todo ou comporiam um retrato da pobreza homogênea, estável e permanente, apreendida por uma diversidade de olhares e perspectivas. Ao contrário, propomos aqui se trate de uma multiplicidade de pobrezas. Pontuamos também as conexões e bifurcações entre as versões de pobrezas produzidas pelas materialidades e socialidades da rede heterogênea das políticas públicas de enfrentamento à pobreza, como forma de desestabilizar, desterritorializar e flexibilizar as noções tradicionais de pobre e pobreza.