Resumo:
"Objetivo: investigar a situação de (in)segurança alimentar e o perfil de consumo alimentar e antropométrico de escolares e seus fatores associados em dois municípios do semiárido de Minas Gerais visando contribuir para políticas locais de Segurança Alimentar e Nutricionais. Metodologia: É um estudo epidemiológico observacional de base populacional do tipo transversal com escolares com idades entre seis e 14 anos - 549 em Francisco Badaró (2007) e 585 em Novo Cruzeiro (2008). A amostragem estratificada levou em consideração os estratos urbanos e rurais e a área de abrangência das equipes da Estratégia Saúde da Família (ESF). Para a coleta de dados gerais, empregou-se questionário semiestruturado e précodificado, adaptado. Os instrumentos de medida foram: Escala Brasileira de Insegurança Alimentar, EBIA; Questionário Semiquantitativo de Frequência alimentar (QSFA); A pesagem direta dos alimentos na escola e as medidas de peso e altura. Os dados antropométricos obtidos foram comparados com os da população de referência das curvas de crescimento da Organização Mundial de Saúde – OMS e de consumo levou-se em consideração a Estimated Average Requirements (EAR) e as recomendações da OMS (2003). Resultados: A análise estatística foi baseada no modelo de regressão logística. A insegurança alimentar foi mais acentuada na área rural em ambos os municípios, exceto para a condição grave em Novo Cruzeiro, que foi mais elevada na área urbana (19,2%). As prevalências encontradas na área rural foram: leve 55,5 e 49,6%; moderada 19,5 e 24,6%; e grave 4,5 e 14,8% em Francisco Badaró e Novo Cruzeiro, respectivamente. Associaram-se à (in)segurança alimentar em Francisco Badaró: cor da pele, classe social, número de moradores no domicílio e a presença do programa Bolsa-Família. E em Novo Cruzeiro: número de moradores no domicílio e classe social. Observou-se baixa ingestão de energia, frutas e verduras e alta ingestão de açúcares e doces com forte variação de acordo com os estratos analisados. A participação relativa de macronutrientes foi adequada de acordo com a recomendação da OMS, mas as análises estratificadas revelaram inadequações e desigualdades para todos esses nutrientes e ingestão insuficiente de vitaminas A e C e Ferro. Em Francisco Badaró, associaram-se a déficit de estatura: residir com mais de seis pessoas e estar nas classes sociais mais baixas, com prevalência média entre os sexos de 4,6% de baixa estatura e 10,7% de sobrepeso/obesidade em meninas e 8,3% em meninos. Variáveis socioeconômicas, demográficas, ambientais, étnicas, acesso a programas sociais e idade associaram-se a sobrepeso/obesidade. Em Novo Cruzeiro, associaram-se à baixa estatura: residir com até três pessoas, cor branca e diarreia, com prevalência de 8,1% em ambos os sexos; e sobrepeso/obesidade com 10,2% em meninas e 3,7% em meninos (p=0,007). Classes sociais mais altas e aumento da gravidade da insegurança alimentar associaram-se positivamente a sobrepeso/obesidade. Conclusões: Nesses municípios, o déficit de estatura é condição relevante entre os escolares e a prevalência de sobrepeso/obesidade encontra-se em patamares inferiores ao observado em outras regiões. Entretanto, para reverter à insegurança alimentar e as más condições alimentares e nutricionais nesses dois municípios, são necessários: a adoção de políticas sociais e econômicas que garantam o Direito Humano à Alimentação Adequada e investimentos em ações promotoras de práticas e hábitos alimentares saudáveis com à constante vigilância epidemiológica e nutricional visando a melhoria da qualidade de vida dessa população. Palavras-chave: (In)segurança alimentar e nutricional. Desigualdade social. Fatores socioeconômicos e demográficos. Padrão alimentar. Estado nutricional. Escolares.