Abstract:
A espinha dorsal que sustentou a pesquisa foi a de compreender as condições de vida e as dinâmicas de mobilidade espacial de famílias rurais residentes em uma região convencionalmente considerada como de “emigração”. A partir da técnica de estudo de caso, empreendi esforços para entender quem são essas famílias e quais suas condições materiais e simbólicas de vida. Centrando o foco no grupo familiar, a partir do resgate de trajetórias sociais tentou-se compreender os fatores que interferem nas trajetórias familiares ao longo do seu ciclo de vida. Um ponto comum a todas as 30 famílias figuras chaves dessa pesquisa, é a mobilidade espacial de membros componentes desses grupos. Mesmo sendo a mobilidade espacial uma parte constitutiva da dinâmica populacional na comunidade pesquisada, como um aspecto cultural local, percebeu-se uma permanência. Logo, qual o sentido dessa permanência, qual a temporalidade do “estar”, quem permanece e por que permanecem?. A seleção do município norte mineiro de São Francisco, como unidade administrativa de análise da pesquisa é justificada por ser uma unidade da federação emblemática por ter ao longo de 30 anos, entre 1970 a 2000, conforme dados do IBGE , ocorrido considerável diminuição da população residente no campo, de 88 % para 46 % e pouco ter alterado a população urbana, o que aponta para a saída populacional para fora do município como fator responsável pela configuração desses índices . Outro elemento considerável, é o fato de incidir nesse município um conjunto de políticas sociais, sobretudo o Programa Bolsa Família. Nesse sentido, pesquisa identificou que ao longo dos anos 1990 e, sobretudo nos últimos 10 anos, houve entre as famílias rurais pesquisadas uma melhoria de suas condições de vida como resultado da presença no espaço intradoméstico de múltiplas fontes de renda em grande parte oriundas de benefícios sociais não contributivos tais como Bolsa Família, aposentadorias rurais e pensões. Grosso modo, para essas famílias, grande parte de seus rendimentos, condições de moradia, inserção do mercado de trabalho e acesso a serviços de educação e saúde estão atreladas a presença do poder público na comunidade. Demonstraremos ao longo da dissertação um intenso fluxo de pessoas, com saídas e retornos ao meio rural. Propõe-se a partir de um universo social marcado intensa mobilidade espacial, a idéia de permanências transitórias e trânsitos permanentes, para contrapor a ideia que essa região de “emigração” esteja passando por um processo de desertificação social. Dessa forma, há certa contra mobilidade, a partir de casos de indivíduos que permanecem na “roça” como um lugar de trabalho e morada.