Abstract:
Este estudo é composto por dois artigos, cujo objetivo principal foi avaliar a associação entre a prevalência e gravidade da má oclusão em crianças de 12 anos de idade e adolescentes brasileiros, na faixa etária de 15 a 19 anos, com variáveis individuais e contextuais. Trata-se de um estudo transversal em que foram utilizados dados do inquérito epidemiológico nacional de saúde bucal, SB Brasil 2010. O desfecho estudado foi a má oclusão, mensurada pelo Índice de Estética Dental (DAI) e categorizada em ausente, definida, severa e muito severa. As variáveis independentes foram classificadas em individuais (demográficas, agravos á saúde bucal, socioeconômicas, escolaridade, morbidade e utilização dos serviços odontológicos, autopercepção e impacto à saúde) e contextuais (Índice de Desenvolvimento Humano-IDH, Índice de Avaliação de Desempenho do Sistema Único de Saúde-IDSUS, Bolsa Família, PIB percapita, água fluoretada). Os dados foram analisados no software SAS (2008) pelos teste qui-quadrado e modelo multinível, com significância de 5%. Na análise multinível foram utilizados 3 modelos: no 1º foi utilizado o intercepto. No modelo 2 foram introduzidas as variáveis individuais e no modelo 3 as contextuais, com o objetivo de explicar as variabilidades da má oclusão. Artigo 1: Foram analisadas de 1 a 250 crianças/cidade em 172 cidades do Brasil, totalizando 7.328 crianças aos 12 anos de idade. Verificou-se que a prevalência de má oclusão severa e muito severa não apresentou associação estatística entre as regiões brasileiras. No modelo um observou-se que a variação da má oclusão entre as cidades foi significativa (p<0,001). O modelo 2 mostrou que as crianças do sexo masculino (p=0,033), de menor renda (p=0,051), que consultaram o dentista (p=0,009), com menor satisfação com a boca e os dentes (p<0,001) e com vergonha de sorrir (p<0,001) apresentaram maior gravidade de má oclusão. No modelo 3, as variáveis do segundo nível (cidades) foram incluídas, evidenciando que as características das cidades influenciaram a gravidade da má oclusão. As cidades com um maior percentual de famílias com benefício social por 1000 habitantes, com menores notas do IDSUS e menor PIB percapita foram estatisticamente associadas com a má oclusão. Artigo 2: Foram analisados de 1 a 402 adolescentes/cidade em 174 cidades do Brasil, totalizando 5.445 adolescentes na faixa etária de 15 a 19 anos. Verificou-se que a prevalência de má oclusão severa e muito severa não apresentou associação estatística entre as regiões brasileiras. No modelo 1, a variação da má oclusão entre as cidades foi estatisticamente significante (p=0,008), com baixo coeficiente de variação (1,3%). No modelo 2, os adolescentes que apresentaram maior gravidade da má oclusão tinham menor renda (p=0,010), já haviam consultado um dentista (p=0,003), tinham menor satisfação com a boca e com os dentes (p<0,001), dificuldade em falar (p=0,036) e vergonha ao sorrir (p<0,001). No modelo 3, as variáveis do segundo nível (cidades) foram incluídas. Verificou-se que a má oclusão mais severa foi observada nas cidades com mais famílias e benefício social por 1000 habitantes (p=0,001) e menor PIB percapita (p=0,016). Conclui-se que a má oclusão apresentou uma associação significativa com as variáveis individuais e contextuais.